sábado, 10 de maio de 2008

Inverossimil destino

A rotina do casal parecia estabilizada .Preparavam-se para o casamento .O pai de Tânia não se opunha ao casal , eles vinham desenvolvendo seus projetos com segurança. Toda via ,planejar a vida implicitamente exige contar com incertezas, admitir que nada fora do de costume virá a acontecer ,ou que, pelo menos ,poder-se-á retomar os planos após determinados revezes. Essa maneira de prever o futuro nos é tão intrínseca que nos faz questionar as estórias que fujam desse padrão. O desfecho da história de Tânia e Alexandre, no entanto, provada pelas lágrimas da jovem de vinte e quatro anos durante o depoimento, não poderia ser prevista: “Tínhamos um relacionamento muito bom. Faltava 15 dias para o nosso casamento. Nós estávamos estressados ,mas muito felizes. Era o dia da última prova do vestido. Ele havia me deixado na costureira, e enquanto eu fazia a prova , foi ver algumas coisas. Depois de eu provar o vestido , ele me deixou na clínica. Era uma hora. Passou na casa de um amigo e de lá iria buscar o irmão dele pra irem ao Buffet. No caminho para a casa de seu irmão , bateu o carro e faleceu.

Isso ocorreu exatamente no horário que eu ia almoçar. Liguei no celular dele, porque senti, como disse tínhamos uma ligação muito forte. Minhas amigas me pediram na época: “Tânia , não vá pra casa almoçar, almoce aqui com a gente,” e acabei concordando. De repente, tive uma sensação estranha e resolvi ir pra casa . Quando eu subia a rampa de acesso á clínica para ir embora, liguei no celular dele.” “Um rapaz atendeu, Havia muito barulho e eu não estava entendendo, só ouvia alguma coisa sobre o carro. Perguntei se ele teria deixado o carro pra lavar, mas me responderam: “Não, ele sofreu um acidente de carro, Já chamamos um resgate, que está chegando, fique calma”. Pude ouvir as sirenes, quis saber onde estavam, mas o atendente pediu pra eu ligar depois para que ele me passasse mais informações.” Assim ,voltei correndo, contei às minhas amigas e pedi que fossem comigo para o local do acidente, mas elas me acalmaram. Mesmo assim eu pensava que ele devia estar preso nas ferragens, pois ele teria descido do carro. Por ele não ter atendido o celular e ter esperado o resgate chegar, eu sabia que não estava bem”.

A moca que era minha chefe na época ligou pra lá e eles a informaram que o Alexandre estava desacordado. Depois nos disseram que não havia hospital pra levá-lo, faltavam vagas e acabaram por conduzi-lo ao hospital Mandaqui , em Santana ,(zona norte de São Paulo). Cinco minutos depois de eu e meu cunhado chegarmos ao local, o médico veio nos dar a notícia. Ele parou na porta e perguntou: “Os parentes do Alexandre?”. Ao confirmarmos, o doutor disse que tinham feito de tudo, mas o Alexandre já havia chegado ali em óbito.

Meu cunhado teve um ataque epilético e desmaiou, eu fiquei parada olhando pro médico. Meu pai, que estava comigo, colocou a mão no meu ombro e a Celina, uma amiga da clínica onde trabalho, foi socorrer meu cunhado. Ouvi tudo que o doutor tinha pra me dizer, e fiquei estática. A Celina veio falar comigo, eu lembro de rir e falar:“ele morreu”. Ela me Perguntava: “você está entendendo que ele morreu?” e eu ria. Fiquei em estado de choque , não chorei no começo, liguei pras pessoas que eu tinha que ligar pedindo para virem para o hospital. Dei a notícia ao meu sogro, que perdera sua primeira esposa no parto do Alexandre .Ela é o grande amor da vida dele. Dizer: “Olha, você perdeu o grande amor da sua vida pra ter seu filho, e agora você perdeu seu filho.”foi muito delicado, mas eu dei a notícia. Deste dia em diante fui perdendo a noção do que estava fazendo: liguei para a minha mãe e tivemos a seguinte conversa: “Olha mãe, o Alexandre morreu” , “Como morreu?”, “Ah mãe, morreu”, “Não, ele vai casar!”,“Ah, morreu!”. Depois da noção do que aconteceu, perdi as lembranças. Eu não lembro de muita coisa. Lembro-me de quando meu irmão chegou ao hospital com a minha mãe. Só olhei pro meu irmão e já cai no choro. Sempre falo que o momento mais marcante na minha memória é estar sentada com a Vanessa, uma enfermeira aqui da clínica, olhando o Sol se pôr atrás das árvores. Assistia ao pôr do Sol e questionava: “ O que eu faço com tanto amor dentro de mim?” E a Vanessa respondeu: “Ele vai estar pra sempre dentro de você” E é isso, ele vai estar pra sempre dentro de mim, eu falei pra ele no caixão que eu ia cuidar de mim. Sei que não estou cuidando direito, mas estou cuidando, estou seguindo, porque era isso que ele queria que eu fizesse, queria que eu vivesse, que eu fosse feliz. Ele sempre fez de tudo por mim, sempre fez de tudo pra me ver sorrir e se ele não está aqui pra fazer isso, eu vou me esforçar pra fazer.”


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